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As tribus

  • Foto do escritor: Dario de Melo
    Dario de Melo
  • 11 de abr. de 2020
  • 2 min de leitura

Quando a minha tribu de sangue foi embora com uma branquitude e o seu olho azul, ainda sobraram alguns de punho erguido e grito pronto.


Entrámos na guerra e todos acharam bem, tínhamos a preparação do exército colonial.


– Fomos Corvos ao Imbondeiro de que ninguém fala;


- Fomos os farruscos que ninguém conhece; poucos chegaram a dirigentes, porque os Parentes acordaram e acabaram com este carnaval do filho do colono se mascarar de angolano nacionalista.


E era justo, porque a nossa tribo esteve quinhentos anos a dar cabo disto tudo, coisa que se conseguiu fazer em pouco mais de três décadas.


Confusos, depois de tanto cascalho rácico, como já estávamos habituados a este modus vivendi, recolhemo-nos no tribalismo profissional, ou seja: ou se escolha um chefe que seja da casa, ou o escolhido vê-se grego para se fazer cumprir.


Como sou velho e a modos que um tanto caquético, esqueci-me que tinha 64 anos de experiência e estaria na hora, era mais que tempo de ir bater portas de um asilo, e pus-me a dar conselhos.

Um velho é um velho e lá porque se esqueceu de morrer quando devia, não quer dizer que a gente tenha obrigação de o ouvir, só porque tem tempo a mais nos lazeres da reforma.


Mas eu, teimoso e burro fui-me ao alfabeto hierárquico do País e por três vezes chateei o “Bê.”


Sua Excelência que é pessoa delicada. mandou-me dormitar no lixo dos seus papéis rasgados; Fui à Rádio e nada. Pedi espaço nos jornais por causa do vírus, ali onde me conheciam, não sabiam quem eu era...


Resta-me pois, para passar tempo. ir para a bicha do cemitério esperar a minha vez. É hora, a terra que me nasceu, está há muito à minha espera. Será que o “À” se chateia se eu não o chatear.




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